Sempre que ocorre um desastre de origem natural, a minha mãe - ecologista militante - encolhe os ombros e profere a inquietante frase: "é a terra a reagir".
É por demais óbvio que o movimento das placas tectónicas não radica em qualquer causa antropogénica.
Porém, desde que a santa senhora teve contacto com a "
Hipótese Gaia" do biólogo James Lovelock, resolveu fazer uma extrapolação que raia o indecoroso para explicar todos os achaques do planeta.
Em última análise, a erupção de um qualquer vulcão que obriga à evacuação de quem vive nas imediações corresponderá à reacção do organismo humano a uma francesinha mais condimentada (e reparem como o termo evacuação pode usar-se aqui em dois sentidos).
Eu, detentora de uma consciência ecológica em grau semelhante à competência do Socas, ria-me desdenhosamente.
Empreguei o verbo rir no passado porque, meus amigos, depois do tsunami no Japão, vi-me obrigada a reflectir.
É preciso encarar as coisas com frontalidade: se o Japão nos deu Yukio Mishima, o walkman e as melancias quadradas, também trouxe à vida Haruki Murakami e o seu carneiro selvagem.
Mais uma achega: o referido fazedor de acendalhas cresceu em Kobe, cidade abalada por um violento sismo em 1995.
Agora, enquanto estava Kafka à beira mar, o país é assolado por um tsunami.
Não estará o planeta a querer dizer qualquer coisa?