A minha mãe ensinou-me muitas coisas.
Ensinou-me, por exemplo, a ver o mundo com cores mais realistas do que aquelas com que eu o pintava na adolescência.
Incutiu-me orgulho em ser independente.
Adestrou-me na arte de rir de mim própria.
Demonstrou-me as virtudes de uma bela vingança quando bem planeada.
Mas, de todas as lições da santinha, a que eu mais prezo é a recusa em tornar-se desapiedada, insensível às calamidades alheias.
Foi dela que recebi a regra de que fome é sempre fome, quer ataque um ser humano ou um animal.
Foi dela que herdei a rejeição da indolência perante o sofrimento dos animais.
É a ela que recorro quando preciso de ajudar mais um animal.
É por causa dela que trabalho para sustentar os meus bichos obesos.