Pierre Louys (1870-1925) é um autor multíplice e de grande complexidade. Os seus textos editados abrangem domínios tão diversos como a poesia, o conto, o romance, a tradução, o ensaio de investigação literária ou a epistolografia. Era também detentor de uma indesmentível paixão antipuritana, que o conduziu a celebrar o hedonismo e a definir-se sumariamente como um “pagão da fé”.
Este “Manual de Civilidade para Meninas” é uma hilariante caricatura dos livros de moral para crianças. Está dividido em capítulos que se destinam a orientar o comportamento das meninas nas diversas situações da vida quotidiana, designadamente No Quarto, Em Casa, Na Copa, À Mesa, Nas Aulas, Na Igreja, etc.
Retirei algumas lições avulsas ministradas nesta obra, que deveria ter lugar em todas as bibliotecas de meninas bem comportadas. Eis alguns dos conselhos:
Quando não estiverdes inteiramente certa de não terdes sífilis, não deveis colocar uma pissa postiça na boca de um bebé, a fim de lhe dardes de mamar o resto do leite que tiver ficado nos colhões de borracha.
Não mijes no degrau mais alto das escadas, para fazer cascatas.
Não cuspais da varanda para cima de quem passa; sobretudo se na boca tiverdes esperma.
Não façais movimentos de pôr e tirar, na vossa boca, com um espargo, olhando com languidez o jovem que quereis seduzir.
Se deparardes com um cabelo suspeito a nadar na sopa, não deveis exclamar: “Viva, um pêlo do cu!”
Todas as noites, e antes de vos entregares à masturbação, orai de joelhos.
Antes de irdes comungar, se chupardes alguém, não engulais o esperma, pois assim deixaríeis de ficar em jejum.
Não vos esqueçais de dizer “se faz favor”, quando pedis uma pissa, ou de responder “obrigada”, quando vo-la oferecem.
Ao subirdes para o automóvel de vossos pais, não beijeis o motorista no pescoço, mesmo sentindo-vos vós reconhecida por ainda há pouco vos ter fodido seis vezes.